“Gestalt”
de Hilda Hilst é um conto publicado em 1977. Hilda Hilst era poeta, cronista e
dramaturga. Nascida em Jaú, no estado de
São Paulo, em 1930, Hilda foi a única filha de um casal de fazendeiros
descendentes da Alemanha e de Portugal. Em 1948, iniciou o curso de direito e
durante este curso conheceu sua futura grande amiga, a escritora Lygia Telles.
Com isso começou a lançar livros na década de 1950. Hilda Hilst escreveu por
quase cinquenta anos, tendo sido agraciada com os mais importantes prêmios
literários do Brasil. Ela adotava temas socialmente controversos em suas obras.
Faleceu aos 73 anos em Campinas com falência múltipla de órgãos.
O
conto apresenta Isaiah, um matemático com sentidos alheados a figuras geométricos
com nós trigonométricos suspensos no espaço por fios finos de polígonos,
descobrindo um porco com curtas corridas gordas desajeitadas e roncos. Isaiah
repudia o porco, questionando-se e ao porco com frases tortas o motivo dele
estar ao seu redor. O porco absteve-se das perguntas rigorosas de Isaiah e
focinhava-o e disparava com sua corrida gorda para provocá-lo. Em tentativas
Isaiah percebe no porco semelhança com seu eu na infância e ao remeter-se de do
apoio de sua mãe, Hilde, aos seus medos desperta carinho pelo porco e este atua
reciprocamente.
A
Gestalt, presente no título, traz em uma das suas leis as questões de boa
continuidade e da pregnância, e isso é o que faz com que a relação entre Isaiah
e seu porco desenvolva-se. A boa continuidade traz o alinhamento harmônico das
formas, isto é um dos pontos que impede o relacionamento inicial entre Isaiah e
seu porco, pela diferença absurda presente entre os dois seres, fazendo com que
um repudiasse o outro, porém com a semelhança harmônica perceptível depois faz
com que uma relação harmônica floresça. A pregnância traz a percepção natural
da imagem, ou seja, é a boa continuidade desenvolvida, com a percepção natural,
relacionando fatos e harmonias, e não trazendo o preconceito de algo. Assim,
Hilda Hilst passa para as pessoas de nossa sociedade a base do nosso
relacionamento com as teorias bases da Gestalt, mesmo com uma simples história
de um matemático e um porco.
As
questões deste comportamento humano de Isaiah podem ser observadas em diversos
filmes, de clássicos do cinema a contemporâneos agraciados pela crítica. O
clássico francês “O Desprezo” de Godard mostra como um sentimento de desprezo
pode ser despertado por ações ou até por uma presença, como vemos o desprezo
mútuo entre Isaiah e o porco só pela presença entre um e outro. O contemporâneo
canadense “Mommy” de Xavier Dolan apresenta a relação entre mãe e filho, um
filho com problemas psicológicos de TDAH e que por uma harmonia faz com que o
filho desenvolva-se socialmente, este papel de mãe está presente em Hilde e faz
com que haja uma reflexão de Isaiah sobre os seus nós trigonométricos e os
supere para receber a harmonia humana. Ou seja, Hilda Hilst, em um pequeno
conto consegue traçar um complexo tema social, humano e psicológico e
desenvolvê-lo fazendo com que se forme um nó de sentimentos, que será
desamarrado pelo leitor durante a leitura do conto.
Pelo
todo o contexto e a boa história, Hilda Hilst constrói um conto impressionante
e que todo ser humano deveria ler para refletir sobre os conflitos psicológicos
de nossa mente. Na primeira leitura, você poderá achar o conto sem sentido e
sem nexo, porém com uma reflexão e uma leitura atenta, você possivelmente irá
se conectar com o conto, mesmo com uma história que possa ser nada comum a seu
cotidiano. Gestalt traz exatamente os nós trigonométricos do ser humano em
geral e transpira isto para o leitor por inteiro, por isso que indico a leitura
e a reflexão deste conto que traz essa moral para a vida.
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