Resenha
do conto Negrinha
José Bento Renato Monteiro Lobato nasceu em Taubaté, São
Paulo, no dia 18 de abril de1882, e faleceu no dia 4 de julho de 1948, em São
Paulo. Foi alfabetizado por sua mãe, e logo despertou o gosto pela leitura,
lendo todos os livros infantis da biblioteca d seu avô Visconde de Tremembé.
Foi um escritor e editor brasileiro na época em que os livros eram editados em
Paris ou Lisboa, “O Sítio do Pica-Pau Amarelo” é a sua obra de maior destaque
na literatura infantil. Destacou-se pelo caráter nacionalista social.
Situava-se entre os autores de Pré-Modernismo, período que procede a Semana de
Arte Moderna. Como escritor literário, Lobato destacou-se no gênero conto,
quando publicou o livro Urupês. Negrinha
um de seus famosos contos foi publicado em 1920.
“Negrinha era uma pobre órfã de sete anos. Preta? Não;
fusca, mulatinha escura, de cabelos ruços e olhos assustados. Nascera na
senzala, de mãe escrava, e seu primeiro ano vivera-os pelos cantos escuros da
cozinha, sobre velha esteira e trapos imundos. Sempre escondida, que a patroa
não gostava de crianças. “D. Inácia era viúva sem filhos e não suportava choro
de crianças”. Se Negrinha, bebezinho, chorava nos braços da mãe, a mulher
gritava: “Quem é a peste que está chorando aí”?” A mãe, desesperada, abafava o
choro do bebê, e afastando-se com ela para os fundos da casa, torcia-lhe
beliscões desesperados. O choro não era sem razão: era fome, era frio: “Assim
cresceu Negrinha magra, atrofiada, com os olhos eternamente assustados. Órfã
aos quatro anos, por ali ficou feito gato sem dono, levada a pontapés. Não compreendia
a ideia dos grandes. Batiam-lhe sempre, por ação ou omissão. A mesma coisa, o
mesmo ato, a mesma palavra, provocava ora risadas, ora castigos. Aprendeu a
andar, mas quase não andava. Com pretexto de que às soltas reinaria no quintal,
estragando as plantas, a boa senhora punha-a na sala, ao pé de si, num desvão
da porta. – Sentadinha aí e bico, hein?” Ela ficava imóvel, a coitadinha. Seu
único divertimento era ver o cuco sair do relógio, de hora em hora. Ensinaram
Negrinha a fazer crochê e lá ficava ela espichando trancinhas sem fim… Nunca
tivera uma palavra sequer de carinho e os apelidos que lhe davam eram os mais
diversos: pestinha, diabo, coruja, barata descascada, bruxa, pata choca, pinto
gorado, mosca morta, sujeira, bisca, trapo, cachorrinha, coisa ruim, lixo. Foi
chamada bubônica, por causa da peste que grassava… “O corpo de Negrinha era
tatuado de sinais, cicatrizes, vergões. Batiam nele todos os dias, houvesse ou
não houvesse motivo. Sua pobre carne exercia para os cascudos, cocres e
beliscões a mesma atração que o ímã exerce para o aço. Mãos em cujos nós de
dedos comichassem um cocre, era mão que se descarregaria dos fluidos em sua
cabeça. De passagem. Coisa de rir e ver a careta… D. Inácia era má demais e
apesar da Abolição já ter sido proclamada, conservava em casa Negrinha para
aliviar-se com “uma boa roda de cocres bem fincados”!…” Uma criada furtou um
pedaço de carne ao prato de Negrinha e a menina xingou-a com os mesmos nomes
com os quais a xingavam todos os dias. Sabendo do caso, D. Inácia tomou
providências: mandou cozinhar um ovo e, tirando-o da água fervente, colocou-o
na boca da menina. Não bastasse isso, amordaçou-a com as mãos, o urro abafado
da menina saindo pelo nariz… O padre chegava naquele instante e D. Inácia fala
com ele sobre o quanto cansa ser caridosa…Em um certo dezembro, vieram passar
as férias na fazenda duas sobrinhas de D. Inácia: lindas, rechonchudas, louras,
“criadas em ninho de plumas.” E negrinha viu-as irromperem pela sala,
saltitantes e felizes, viu também Inácia sorrir quando as via brincar. Negrinha
arregalava os olhos: havia um cavalinho de pau, uma boneca loura, de louça.
Interrogada se nunca havia visto uma boneca, a menina disse que não… e pôde,
então, pegar aquele serzinho angelical: “E muito sem jeito, como quem pega o
Senhor Menino, sorria para ela e para as meninas, com assustados relances
d’olhos para a porta. Fora de si, literalmente…” Teve medo quando viu a patroa,
mas D. Inácia, diante da surpresa das meninas que mal acreditavam que Negrinha
nunca tivesse visto uma boneca, deixou-a em paz, permitiu que ela brincasse
também no jardim. Negrinha tomou consciência do mundo e da alegria, deixara de
ser uma coisa humana, vibrava e sentia. Mas se foram as meninas , a boneca
também se foi e a casa caiu na mesmice de sempre. Sabedora do que tinha sido a
vida, a alma desabrochada, Negrinha caiu em tristeza profunda e morreu, assim, de
repente: “Morreu na esteirinha rota, abandonada de todos, como um gato sem
dono. Jamais, entretanto, ninguém morreu com maior beleza. O delírio rodeou-a
de bonecas, todas louras, de olhos azuis. E de anjos…” No final da narrativa, o
narrador nos alerta: “E de Negrinha ficaram no mundo apenas duas impressões.
Uma cômica, na memória das meninas ricas. – “Lembras-te daquela bobinha da
titia, que nunca vira boneca”?” Outra de saudade, no nó dos dedos de dona
Inácia: – “Como era boa para um cocre!…”.
Ter estado anos a fio a desconhecer o riso e a graça da
existência, sentada ao pé da patroa má, das criaturas perversas, nos cantos da
cozinha ou da sala, deram a Negrinha a condição de Bicho-gente que suportava
beliscões e palavrórios, mas a partir do instante em que a boneca aparece, sua
vida muda. É a epifania que se realiza, mostrando-lhe o mundo do riso e das
brincadeiras infantis das quais Negrinha poderia fazer parte, se não houvesse a
perversidade das criaturas. É aí que adoece e morre, preferindo ausentar-se do
mundo há continuar seus dias sem esperança.
Indicaria muito esse texto tanto para os mais velhos,
quanto para os mais novos como eu para podermos criar uma consciência, dos maus
tratos, e da escravização que realmente aconteceu no Brasil, e por pior que
seja ainda existe.
-Autoria de Victória Castro
Olá! Meu nome é Victória Marina Castro, sou estudante do colégio Sartre Coc. Amo ler e escrever.
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